AspectosHistoricos

Tamanho da fonte

Aspectos Históricos da Ressuscitação Cardiopulmonar

 

Durante longos anos, a humanidade interpretou a morte como evento inexoravelmente irreversível e todas as tentativas de ressuscitação eram consideradas blasfêmia; este dramático quadro durou até meados do século XVIII, quando a humanidade finalmente começou a acreditar na possibilidade de execução de manobras efetivas para ressuscitação (GUIMARÃES et al., 2009).

A história e prática da ressuscitação cardiopulmonar (RCP) têm evoluído ao longo de muitos séculos nos quais os primeiros relatos datam dos tempos bíblicos. A primeira menção acerca da ressuscitação refere-se ao momento da criação de Adão, tendo Deus “soprado em sua boca dando-lhe a vida” (GUIMARÃES et al., 2009).

Ao final do Império Romano em 476 a.C, os métodos mais antigos de ressuscitação variaram desde aplicação de calor ao corpo inerte mediante objetos quentes sobre o abdômen (fumigação), até a flagelação chicoteando-se com urtiga (planta cujas folhas são irritativas contendo ácido fórmico). Em 1530 o cientista Paracelsus, já utilizando raciocínio e metodologia científica de investigação avaliou o uso de foles de lareira para introdução do ar nos pulmões de indivíduos aparentemente mortos, caracterizando as primeiras e rústicas tentativas de ventilação artificial (GORDON, 1981).

Em 1543, Andreas Vesalius publicou “De Humani Corporis Fabrica” (A Estrutura do Corpo Humano), um comentado tratado de anatomia humana. As escrituras continham as primeiras descrições que se tem conhecimento da tentativa de ressuscitação de corações utilizando porcos e cachorros. Em 1618, o médico inglês William Harvey foi o primeiro a prover a descrição definitiva do sistema circulatório (GORDON, 1981).

O fim do século XVIII até a metade do século XX caracterizou-se por um período supostamente mais embasado no cientificismo quando surgiram vários métodos manuais de ventilação artificial. Por volta de 1812, os europeus e os chineses passaram a posicionar o corpo da vítima sobre cavalos em trote, acreditando que este movimento ativaria seus pulmões e retornaria a respiração. Já o fisiologista alemão Moritz Schiff descreveu que a compressão direta do coração de cães em modelo experimental gerava pulso carotídeo, sendo considerado por muitos o pai da ressuscitação moderna (GORDON, 1981; MOUKABARY, 2009).

No início do século XX, George Washington Crile escreveu um extraordinário relato de método experimental sobre ressuscitação animal caracterizado pela combinação de compressões torácicas, respiração artificial e infusão parenteral de epinefrina. Nesse relato, descreve massagem cardíaca aberta e fechada, antecipando a “teoria da bomba torácica”, mediante a seguinte afirmação: “Pressão isolada sobre o tórax é capaz de produzir circulação artificial; isso não decorre de uma ação isolada sobre o coração e sim da sua ação sobre os vasos (artérias, veias e capilares) conjuntamente” (PARASKOS, 1993).

Nos anos 50 reconheceu-se que para haver efetividade na ressuscitação e no suporte de vida, a ação na arena pré-hospitalar era o elemento chave. Subsequentemente, estratégias de treinamento em RCP foram desenvolvidas. A era moderna da RCP iniciou-se quando Kouwenhoven e cols., em 1961, obtiveram sucesso utilizando uma combinação de massagem cardíaca (a compressão sobre o terço inferior do esterno, feita adequadamente, fornecia uma circulação artificial suficiente para manter a vida em animais e seres humanos com parada cardíaca), desfibrilação, respirações de resgate e drogas cardiotônicas (DANE et al., 2000).

 

Colaboração do enfermeiro Cesar Eduardo Pedersoli,

Mestre e Doutor pela EERP-USP

 

logo

Ambiente Virtual de Aprendizagem para a Capacitação em Parada Cardiorrespiratória
All rights reserved. Developed by Camila Sampaio